Cura-nos da paralisia, Senhor!


PRÁTICA DAS "BOAS-VINDAS" NA OC

Texto por Bill Ryan (USA) - tradução de Jandira Pimentel

Muitos de nós quando iniciamos a prática da OC ou alguma outra forma de oração contemplativa, começamos a experimentar em um dado momento uma paz interior que parece crescer e se espalhar em nossa vida diária. Esse processo também nos deixa mais conscientes do surpreendente contraste em áreas onde não estamos tão pacificados. Isto sobressai mais quando encontramos as emoções aflitivas, aquelas emoções e "comentários" (interiores) que nos impedem de nos enraizar na Presença de Deus e na paz diária. Elas oscilam das emoções muito "frias" da apatia, do pesar, medo, assim por diante, até as emoções "quentes" da raiva, lascívia, orgulho, etc. Reagir com aversão ou com indulgência não vai ajudar na transformação dessas emoções no amor e na compaixão que Deus deseja para nós.

Elas são manifestações do falso eu, ou do nosso senso de separação de Deus, quando nossos programas emocionais para a felicidade são frustrados ou bloqueados. Nosso desejo de estar com eles, aceitá-los, apresentá-los a Deus, sem abandonarmo-nos a eles ou sem julgá-los, torna possível desmantelar os programas emocionais que alimentam o falso eu e o redirecionamento de todos os nossos desejos e necessidades de completude, a Deus.

A Prática de Boas-Vindas do livro "Open Mind, Open Heart", de Thomas Keating, OCSO, é a aplicação da Oração Centrante e a ação transformativa do Espírito Santo em nossa vida diária. Foi formulada pela saudosa Mary Mrozowski, do "Contemplative Outreach". Na prática da OC, aprendemos experimentalmente que nossa verdadeira identidade se encontra na Presença de Deus, que nossa vida verdadeira está na Vida de Deus e sua Ação dentro de nós. Aprendemos que os distúrbios emocionais e comentários de nossa mente reforçam o sofrimento em nossa vida e necessitam, por isso de compaixão e aceitação e precisam também ser trazidas a Deus para que a paz seja encontrada. Uma maneira de se fazer isso é a prática de "Boas-Vindas". A prática é simples e direta mas necessita um grande coração e bastante Fé.

Quando nos tornamos conscientes de emoções aflitivas, pensamentos ou comentários da mente:

Passo 1: Concentre-se e esteja Presente: à energia do sentimento, pensamento, emoção, sensação corpórea, comentário. (Sem se identificar com eles, consentir neles ou ser levados por eles). (Em suma, atenção ao momento presente, à emoção ou sentimento, aqui e agora, do jeito que ela é. Perceber que eu não sou minhas emoções, sentimentos, etc. Eu observo, mas não sou aquilo que observo. - nota da tradutora).

Passo 2: Dar as boas-vindas, verbalizar internamente sua intenção de entregar, devolver, esta experiência aflitiva ao Espírito Santo, na totalidade do Cristo. Sendo gentis com nossa humanidade, damos as boas-vindas à experiência, oferecendo-a em compaixão, por amor à Presença e Ação de Deus dentro de nós. Mais uma vez, como na prática da OC, damos nosso consentimento à Presença e Ação de Deus em nós, para curar e solucionar este sentimento, pensamento, emoção, sensação ou comentário.

Passo 3: Desapegar-se. Desapegamo-nos de nossos desejos desordenados a resultados ou escapismos. Expressamos internamente o seguinte:

"Desapego-me de meu desejo por Poder e Controle";
"Desapego-me de meu desejo por Estima e Afeição";
"Desapego-me de meu desejo por Sobrevivência e Segurança";
"Desapego-me de meu desejo ou insistência em mudar a situação que dá origem às emoções aflitivas (pensamento, sentimento, sensação, comentário, ou evento)."

Esta prática pretende nos ajudar diretamente a redirecionar nossas necessidades inapropriadas a Deus, para além dos programas emocionais que criamos para nós, ainda numa tenra idade, talvez a partir de nossa necessidade naquela época, ou pela falta de amor apropriado em nossa criação, mas que mesmo assim alimentam nosso sofrimento e senso de separação neste momento de nossas vidas.

Obviamente, há outras circunstâncias, em que esta prática não é apropriada, ou em que nos sentimos esmagados, tais como circunstâncias abusivas ou perigosas, ou em que o simples sentimento, ou a lembrança se tornam muito pesados. Em tais casos, a prática da oração ativa ou "guarda do coração" (oração de Jesus), pode ser mais apropriada. Esta prática é pensada para nos ajudar no desapego, em Deus, quando mais necessitamos, e facilitar a abertura ao Amor de Deus e da Graça para nos trazer a transformação e libertação daqueles obstáculos à uma resposta plena ao amor de Deus.

É importante nisso tudo estar compromissado com uma disposição para o amor compassivo em relação às feridas de nossa humanidade. Compaixão conosco mesmos!

O livro "Intimidade com Deus" de Thomas Keating, da ed. Paulus, aprofunda a questão dos nosso programas emocionais para a felicidade, desembocando nos centros de energia por controle, auto-estima, segurança, que em si são coisas boas, mas que devem estar equilibrados. O livro "Mente Aberta, Coração Aberto " é ainda mais abrangente, editado pela Loyola.

por Bill Ryan - tradução de Jandira Pimentel